Tucunarés do Lago do Manso
- jrlazari
- 19 de jun.
- 7 min de leitura
Atualizado: 4 de jul.
Uma jornada de Fly Fishing entre explosões na superfície, técnicas certeiras e aprendizados (inclusive com linha rompida...)
Junho de 2025, José Roberto de Lazari
Onde tudo começa: O encanto do Lago do Manso
Encravado no coração de Mato Grosso, o Lago do Manso é mais do que um paraíso visual com suas águas esverdeadas e paisagens de cerrado. É um dos destinos mais promissores do Brasil para quem busca a pesca esportiva de Tucunarés. Formado pelo represamento de três rios — Rio Manso, Rio Casca e Rio Quilombo — o lago criou um vasto espelho d’água que, aos poucos, se tornou habitat de diferentes espécies de peixes — entre elas, o rei das águas doces: o Tucunaré.

Mas não se engane: o Manso exige leitura apurada, adaptação às condições e, claro, boas moscas no estojo. Foi ali que vivi uma das pescarias mais completas dos últimos anos — e é sobre isso que te conto a seguir.
Os donos da festa: Espécies de Tucunarés do Lago do Manso
O Lago do Manso abriga pelo menos três espécies de Tucunaré:
Cichla kelberi (Tucunaré Amarelo): Mais abundante, agressivo e bastante ativo em estruturas como galhadas, pedras e margens rasas.
Cichla piquiti (Tucunaré Azul): Bem difundido e estabelecido na represa, oferece combates vigorosos.
Cichla pinima (Tucunaré Pinima): Em menor quantidade, mas fisgado com frequência, sendo uma bela surpresa para quem o fisga.

A convivência entre essas espécies torna a pescaria dinâmica. Em um mesmo dia, é possível capturar vários Tucunarés amarelos e, logo depois, sentir o tranco de um Azulão mais parrudo. Os Tucunarés do Lago do Manso são sempre uma ótima surpresa, independente da espécie ou do tamanho.
Foram muitos peixes fisgados e embarcados. Eles variavam de local o que nos fazia buscar entender onde estariam. Pegamos peixes em águas rasas, no meio de vegetação, nas praias, nas pontas das ilhas, entre galhos e pedras, em locais mais profundos. Ou seja, o dia é animado e agitado.
Condições de pesca e comportamento dos peixes
Quando estive em 2024, o lago estava mais baixo. Muitas ilhas e estruturas ao redor delas estavam à mostra, criando um cenário ideal para leitura visual. As praias eram fartas, e nelas encontrávamos bons exemplares do Tucunaré Azul. Os pontos típicos estavam evidentes e facilitavam a escolha dos lançamentos.
Já em Maio de 2025, encontramos o lago muito mais cheio — cerca de 10 metros acima da marca do ano anterior. As ilhas onde eu costumava pescar estavam completamente submersas. Isso não foi um problema, mas exigiu uma nova abordagem. Com mais espaço disponível, os peixes se espalham, e localizá-los exige mais observação, leitura de água e, claro, um bom guia.

Nesse cenário, o conhecimento do Rafael Kirchesh e sua capacidade de adaptar a pescaria ao Fly foram diferenciais essenciais. Ele foi preciso nas escolhas dos pontos e generoso nos alertas.
Nas margens, a água invadia a vegetação rasteira, e ali muitos Tucunarés emboscavam suas presas, escondidos entre galhos e capins submersos.
Já as ilhas encobertas criavam platôs invisíveis, com 1 a 2 metros de profundidade, que passariam despercebidos para quem não conhece bem o lago. Parecia um descampado, mas os peixes estavam lá, patrulhando silenciosamente as estruturas submersas.
Foi nesse ponto que o Rafael me deu um dos melhores conselhos da pescaria:
"Trabalhe o lado de dentro da represa. Aquela faixa rasa tem muita estrutura e sempre rende bons peixes."
Ele tinha razão.
Equipamentos e linhas utilizadas
Levei três conjuntos para cobrir todas as situações:
Vara #8 Repiso Rocket de 9 pés com linhas Rio Warmwater Predator Sinking #6. Usei esse equipamento para buscar os Tucunarés "lá no Pré-sal, como diria meu amigo e guia em Igaratá Eder Araújo".
Vara #8 Repiso Rocket-X de 9 pés com linhas Rio Warmwater Predator Intermediate #8. Foi meu principal conjunto.
Vara #9 Repiso Big Game, ideal para grandes streamers e moscas de superfície montada com Rio Warmwater Predator Floating #9.
A troca rápida entre linhas foi facilitada pelos carretéis extras, e isso fez toda a diferença ao mudar de pontos rasos para galhadas fundas.
O Lago tem piranhas que chegam rapidamente ao peixe fisgado. Se eles puderem vão atacá-lo.
O lago é repleto de estruturas, entre elas, arbustos conhecidos como arranha-gato, troncos e pedras. Um bom tucunaré vai imediatamente buscar esses lugares para se safar. Chegando nesses arbustos, ele se enrola e usa isso para romper o leader ou a própria boca para se libertar.
As moscas que fizeram a diferença
Se tem algo que pesou no sucesso dessa viagem foi o repertório de moscas.
Moscas de maior destaque:

Color Tail Minnow - Essa mosca se destaca por sua cauda realista, preparada anteriormente. Elas são confeccionadas nas cores similares aos peixes da região.

Tarpon Fly - Inspirada nos modelos tradicionais para pesca do Tarpon, essa mosca foi atada com Slink fibers, brilhos e olhos recuados na altura da ponta do anzol. Foi a primeira vez que usei uma mosca desse tipo — e a surpresa foi enorme. Seu desempenho superou expectativas, tornando-se a segunda mais produtiva da semana, logo após a Bucktail Deceiver.

Bucktail Deceiver - Uma mosca clássica criada pelo saudoso Bob Popovick e reproduzida por atadores do mundo todo, mantendo sua genialidade. Como geralmente faço, atei essa mosca com algumas particularidades que registram meu estilo e minha assinatura. Essa mosca foi, ao lado da Tarpon Fly, a campeã da semana de pesca.

Shiner - Um padrão baseado no clássico EP Shiner do Enrico Puglisi. Essa mosca tem um formato mais arredondado, com transparência proposital que mostra no centro dela fibras avermelhadas simulando guelras e brilhos que fluem até 1cm além da cauda. Em geral, a barriga branca e o dorso em diversas cores além do branco. Seu desempenho foi fantástico e me rendeu muitos peixes.

Yak Blend Minnow - Uma mosca que leva o nome do principal material do seu corpo. Pode ser coincidência, mas, todos os maiores tucunarés que eu pego nas pescarias é com ela.

Sardine - Um padrão baseado no clássico EP Sardine do Enrico Puglisi. Atada com EP Fibers e brilhos para o Tucunaré, foi muito eficiente entre os cardumes de Tucunarés menores.
A escolha das cores e o contraste com a luz foram decisivos. Costumo optar por cores claras na barriga das moscas — especialmente branco ou bege — para manter uma aparência natural e eficiente. Já o dorso, normalmente, recebe cores mais escuras ou vibrantes como verde limão, amarelo vivo, azul ou verde musgo. Tenho liberdade para combinar essas cores de acordo com a condição do dia. Vale destacar que as moscas totalmente brancas são, sem dúvida, uma escolha sempre efetiva.
Vídeos da expedição no Lago do Manso
Resumo do que funcionou
Eu gravei um vídeo consolidando tudo o que funcionou nessa viagem.
Técnica, ação… e aprendizado com o líder quebrado
Durante um momento da pescaria, resolvi mostrar como embarcar um Tucunaré com segurança, evitando apoiar a vara para não quebrá-la. Fiz o movimento com calma, guiei o peixe… e na hora de segurar o líder para pegar o peixe com a outra mão — snap! Linha rompida.
O peixe foi embora e eu ganhei um aprendizado: demonstrar é ótimo, mas fazer tudo ao mesmo tempo, sob a pressão da câmera e com um peixe vibrando na linha... é outra história. Fica o registro: não segure o líder com força se o peixe ainda estiver com energia.
Aprendi na prática (e o vídeo está aí pra provar).
Assista o vídeo completo dessa incrível pescaria
A operação Manso Fishing Resort
A estrutura do Manso Fishing Resort foi um espetáculo à parte. Os almoços eram servidos nas dependências do Resort, com exceção de um dos dias, quando a equipe operacional preparou um delicioso churrasco em uma das praias da represa — um daqueles momentos especiais que tornam a pescaria ainda mais memorável.

Sobre os barcos: o resort utiliza Bass Boats equipados com motores de 100hp, que garantem enorme segurança para navegar pelas águas da represa em qualquer condição climática. São embarcações rápidas, estáveis e muito confiáveis.
O guia Rafael Kirchesh
O que realmente faz diferença é estar com um bom guia — e o meu foi o Rafael Kirchesh.
Rafael conhece o Lago do Manso como poucos. Sabe onde os Tucunarés costumam emboscar suas presas, tem paciência nos deslocamentos e sensibilidade para entender o ritmo da pescaria. Mas o que mais valorizo é o clima que estabelecemos desde o primeiro dia: uma conversa aberta, respeitosa e alinhada.
Sempre que chego para uma pescaria, gosto de fazer um combinado logo no início. Falo sobre como gosto de pescar, o que valorizo, o ritmo que prefiro e — acima de tudo — como podemos tornar os dias leves, agradáveis e saudáveis para todos. Com Rafael, esse alinhamento fluiu naturalmente. Sem pressa, sem pressão. Apenas pesca esportiva da melhor qualidade, com bom humor, troca de experiências e parceria verdadeira.
Turismo, conservação e futuro do Lago
A região do Lago do Manso tem enorme potencial turístico e de pesca esportiva. Com o aumento da visitação, cresce também a importância da educação ambiental e da prática do pesque-e-solte consciente. Se a presença de espécies exóticas, como o Tucunaré, exige monitoramento, mas também representa oportunidade quando bem manejada.
O Lago do Manso está inserido no estado de Mato Grosso, que estabelece um período de defeso (piracema) entre os meses de outubro e janeiro, durante o qual a pesca fica proibida em diversas regiões, incluindo áreas do entorno do lago. É fundamental que o pescador consulte as normas atualizadas do Instituto de Defesa Agropecuária do Estado de Mato Grosso (INDEA-MT) e possua uma licença de pesca válida (seja amadora ou esportiva) emitida por órgão competente.
Outro ponto importante: lembre-se sempre de levar seus medicamentos de uso contínuo e uma pequena caixa com itens básicos de primeiros socorros. Estar preparado para situações inesperadas é essencial para uma pescaria segura e tranquila.
Preservar o Lago é garantir que futuras gerações também tenham a chance de viver a emoção de ver um Tucunaré explodindo na superfície.
Considerações finais
Pescar no Manso é se colocar à prova. É entender que cada dia exige uma leitura diferente do lago, uma adaptação das moscas, uma paciência no arremesso. Mas é também viver momentos de pura conexão — com o peixe, com a natureza e com a própria história que você está construindo como pescador.
E quando o peixe ataca… bem, aí você sente que tudo valeu a pena.
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